Sabe-se que por algum motivo foi disseminado por muito tempo que o Rio Grande do Norte era um cemitério indígena e que “não é possível afirmar a influência étnica indígena e decisiva no povo norte-riograndense. (…) A influência é mais folclórica, etnográfica, que étnica (Câmara Cascudo). Mas pessoas como Luiz Katu, Cacique da comunidade Potiguara Katu, vem provando que o historiador estava errado.
Mas voltando o olhar primeiramente para a nossa formação, aprendemos enxergar os indígenas com o olhar nostálgico, como algo que já passou. E este estranhamento, no entanto, foi construído não só pelos historiadores como Cascudo, mas desde os primeiros relatos dos colonizadores, passando pelos escritos iluministas, pela literatura romântica brasileira do século XIX, aos, acredite, dias de hoje, com quem dissemina que os indígenas não existem.
Sabe-se que apagar a existência dos povos originários é apagar a nossa história e um pouco da gente também. “Eles não são mais índios… eles perderam a sua cultura”. Esta frase recorrente no seio da sociedade brasileira faz parte de uma herança, cuja origem remonta a descoberta do Novo Mundo.
Não é por nada que a demarcação das terras indígenas atiça setores da sociedade com o mesmo discurso “muita terra para pouco índio”. É uma cultura enraizada, que causa choque e deve sim ser enfrentada.
Ao gravar, nas ultimas semanas, o conteúdo com os personagens da Aldeia Katu na zona rural de Goianinha, para o programa Mistura, na Inter TV, ouvi comentários do tipo “Que índio é este, vestido com roupas de branco?” De todos os absurdos que podem ser atribuídos a eles, este certamente é o mais cruel. Não são mais índigenas por quê? Porque perderam sua cultura? Porque não passeiam em seus trajes típicos pelos grandes centros?
Certamente, caro leitor, esse artigo possa ser indigesto para você; Certamente, caro leitor, você esteja com um nó na garganta; Certamente, caro leitor, por que aprendemos muito mais sobre mercado de trabalho, na escola, do quê sobre valores antropológicos. E isso nunca foi à toa.
O que é ser indígena? Povos que originariamente se desenvolveram e estavam intimamente ligados ao meio ambiente. Mais do quê a sustentabilidade em sí, o que eu trago para discussão é a raiz cultural na relação com o espaço que ocupam. Os indígenas são povos que lutam e resistem por suas terras ancestrais e o direito de continuarem sendo indígenas, preconizado pela Constituição brasileira. Direito questionado ainda hoje, pelas elites conservadoras e os interessados no que há acima e à baixo das terras indígenas.
A dita “perda da cultura”, portanto, está ligada à invasão de suas terras. Como bem relata o Cacique Luiz em seu emocionante depoimento. Como realizar todos os rituais do povo Potiguara Katu, sem os elementos da natureza que deram origem às suas crenças e costumes? Por isto não é difícil entender o motivo do Rio Grande do Norte não se demarcar terra indígena e nem conhecer a cultura originária como deveríamos. Talvez, por aqui soframos com uma profunda dificuldade de nos colocar no lugar do outro.
Leo Souza