Se você estava na internet nas últimas 24 horas, certamente foi impactado pelo filme publicitário de lançamento dos 70 anos da Volks e lançamento da nova Kombi, que foi estrelado por Maria Rita e a memória da sua mãe, a cantora Elis Regina.
Do aspecto publicitário, uma campanha sem retoques, que alcançou seu objetivo em grande escala e impacto, com texto, ancoragem e, mídia expontânea que valem todo investimento e planejamento. Foi um galaço, que com certeza, nenhuma outra montadora teve algo parecido nas últimas décadas.
E uma campanha dessa natureza, não só pelo valor investido, mas também pela repercussão que alcança, entra em outro campo de discussão: a ética.
E nesse momento entra na pista os feitos históricos que envolve as duas partes: montadora e cantora, que em determinado momento da trajetória estavam em vias opostas. Elis, perseguida pela ditadura e a VW apoiada no regime militar brasileiro e no nazismo alemão. Que contradição!
Até que ponto, com distanciamento temporal e, consequentemente, histórico, é possível separar uma coisa da outra?
Para além do marketing afetivo da propaganda de seus 70 anos, quais ações efetivas a empresa tomou para reparar a marca de violência, autoritarismo, tortura e mortes presentes nessa sua história?
Uma pergunta dificil de responder, principalmente pelo valor histórico que os personagens representam. Um no desenvolvimento da arte como instrumento de revolução social e a outra da industrialização de um país que estava aprendendo e tirou grandes lições, pelo menos deveria.
Sabe-se que uma empresa como a VW só existiria por sete décadas, sabendo se reiventar e ressignificar seu papel na história. Mas sabemos também, que ao criar um filme comemorativo de uma data significativa da sua existência e colocar uma artista que dedicou sua trajetória a combater valores que a marca os apoiou em algum momento, é provocativo, pode ser um sinal de mudança, mas pode ser um lapso de criação publicitária.
Encerro esse artigo deixando mais uma vez o filme publicitário, que muito provavelmente será premiado. Uma peça que deve virar tema nas cadeiras acadêmicas, que vai ajudar a formar novos profissionais e já entrou para a história.
Para quem não é do ramo da propaganda, aqui vai um resumo: quem teve uma história afetiva com um dos produtos da Volkswagen nesses 70 anos? Certamente muita gente. O comercial atual excede seu papel e vira um show, sem apelo que um comercial convencional teria. Ninguém sabe de cara o que estão vendendo, até que se descobre a nova Kombi, que chegou em uma versão elétrica, que assim como a marca, evoluiu.
Fazia tempo que uma peça da publicidade trazia tanta discursão e contexto a ser debatido, propaganda também é isso. Propaganda também é história.
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