Certa vez, eu soube que uma pessoa do meu convívio, disse: “Heloisa não teria a menor condição de criar esse menino sozinha”. Eu tinha 26 anos e acabado de ter um filho. Dá pra ter ideia de como eu me senti com aquela afirmação?
Na época, senti raiva: “Como assim, não conseguiria criar meu filho sozinha? É claro que eu daria conta. É meu filho! Eu cuido dele muito bem, sim”. E foi um calo por algum tempo na minha vida, essa espécie de julgamento do meu maternar. Hoje, anos depois, aquela frase não bate mais do mesmo jeito.
Com o tempo e maturidade, entendi que “é CLARO que eu não daria conta”. Simplesmente porque não precisa ser assim. Somos seres humanos, sociais, dependemos uns dos outros. Quando um bebê nasce, então, nem se fala. Aliás, era assim que acontecia antigamente.
Segundo educadores, o provérbio africano: “É preciso uma aldeia inteira para se educar uma criança” quer dizer que a educação de uma criança não depende apenas do núcleo familiar, mas ela recebe influência de toda uma comunidade. Mas eu gosto de trazer essa frase também para a criação, especialmente nos primeiros meses, tão difíceis. Eu diria que “é preciso uma aldeia inteira pra criar uma criança”.
Gosto de pensar que se não estivermos sozinhas, tudo pode ser menos difícil. A mãe não deve fazer tudo, afinal ela não deixa de ser mulher, de ser uma pessoa, com as próprias necessidades. Pra mim, aquele outro ditado “Quem pariu Matheus, que balance” faz menos sentido ainda.
A mãe e o pai (considerando que este também esteja fazendo a sua parte) precisam de rede de apoio. Dos irmãos, pais, avós, tios, primos, vizinhos, amigos, na verdade todo mundo que quiser ajudar, será bem vindo! E não é porque a mãe não consegue. Você já vivenciou 24 horas de um bebê? Se tiverem 10 pessoas pra ajudar, as 10 irão cansar. E onde está escrito que ela deveria dar conta? Quem inventou a maior fake news da maternidade? De que nós, mães, e só nós – e às vezes alguns raros pais -, conseguimos e devemos “dar conta” de tudo?
Não é à toa que existe baby blues, depressão pós parto e tragédias acontecem, por conta da falta de informação e assistência à saúde (física e mental) da mulher, especialmente após o nascimento de um bebê.
Voltando à afirmação do início desse texto, hoje, ao invés de raiva, sinto… pena. Pena de quem disse isso e perdeu uma excelente oportunidade de se solidarizar com uma jovem mãe no seu puerpério.
Eu sei que sempre dei o meu melhor, que sou falha, como todo ser humano. Mas entendi que aquela afirmação diz muito mais sobre quem falou. Aquela afirmação não era sobre mim. Seria mentira dizer que não guardo ressentimento por causa daquela frase. Mas sinto que perdoei. Se a gente não se ajudar, quem irá?